Remédios a mais, Saúde a menos

Com o avanço da idade o número de doenças tende a aumentar e, inevitavelmente, também o número de medicamentos prescritos. Sabia que a interação entre medicamentos pode ser mais um fator de risco para o utente? Leia a história que se segue e tire as suas conclusões.

Alfredo Carvalho, de 75 anos, toma mais de cinco medicamentos por dia.

Ele é um antigo combatente da guerra do ultramar. Foi para Angola obrigado, mas voltou vivo, para governar a vida e ser herói. Já é bisavô e não se conforma com a última consulta que teve com a sua nova médica de família, uma médica jovem e muito competente.

Tio Alfredo partilha com os seus amigos, a sombra de um plátano a meio da tarde e também os seus problemas de saúde. Lamenta-se perante a compreensão estampado nos rostos de quase todos os outros idosos: 

Não estou a gostar nada desta médica. Diz que estou a tomar medicamentos a mais e agora quer reduzir-me a receita. EU TOMO COMPRIMIDOS para a tensão, para os diabetes, para o colesterol, para os nervos, para um problema que tenho na próstata... NÃO É PORQUE EU QUERO, É PORQUE SOU MUITO DOENTE!

O tio Alfredo não percebe que vai à consulta com tanta frequência também por causa das complicações provocadas pelo cruzamento de efeitos adversos de tanta medicação.

É verdade! Por tomar tantos remédios, tio Alfredo ainda fica mais doente.

Estudos clínicos recentes comprovam-no e é neles que a doutora Isabel se baseia para ajudar da melhor forma os seus pacientes.
Ela sabe, como nenhum utente poderá saber, que a polimedicação é uma causa importante de mortalidade e de reações adversas em pessoas idosas. Por isso, procura estar muito atenta a todas as queixas, a todos os pormenores dos sintomas que os seus pacientes lhe descrevem.

Mandam as boas práticas clínicas fazer com frequência a revisão da medicação habitual em pacientes com doenças crónicas, procurando simplificar a toma de remédios e ponderando sempre muito bem os benefícios dos remédios e os potenciais riscos que eles podem provocar quando associados uns com os outros.

Este é o procedimento diário de qualquer médico na sua consulta, mas hoje, a doutora Isabel chega a casa um pouco frustrada com o trabalho. O que a faz ser médica é poder colocar todo o seu conhecimento científico ao serviço dos utentes, mas também um secreto amor pelos seus pacientes. E hoje, não conseguiu que o tio Alfredo aderisse ao tratamento, com consequências para a saúde que ele próprio desconhece. Mas o que mais a desmoralizou foi a desconfiança que sentiu no seu utente…

Debaixo do plátano, tio Chico contraria o seu companheiro de sombra:

Ó Alfredo, eu cá não tenho nenhuma razão de queixa. Fui lá à consulta e estou a fazer como ela me disse para fazer. Quando mudei tive ali uma coisita, mas depois passou. Sabes que mais? Não me sinto nada pior e, ao final do mês, poupo dinheiro na farmácia.

Se você conhece algum «tio Alfredo» diga-lhe, por favor, que nunca deixe de ser um herói, mas também pode confiar na sua médica e em quem se preocupa com ele.

CRÉDITOS: Informação técnica retirada do artigo científico Prescrição potencialmente inapropriada em idosos numa Unidade de Saúde Familiar do norte do país,  publicado no nº2 da revista AIMGF Magazine, edição de novembro de 2018. Este artigo foi revisto por um médico especialista em MGF.

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